Saturday, August 25, 2007

cartas....3

O que precisa de mudar são os espaços escolares completamente degradados, onde tanto professores como alunos gelam no Inverno, porque as escolas não têm dinheiro para o aquecimento, e morrem de calor, no verão, muitas vezes em pré fabricados sem o mínimo de condições para fazer seja o que for. Precisa de ser melhorada a segurança: é comum as escolas serem "rondadas" por vendedores de droga à espera de conseguirem angariar mais clientela, tentando seduzir os alunos mais abandonados, que têm que esperar horas por um autocarro e ainda têm que fazer longos percursos a pé, em estradas desertas, de noite. Não é preciso ir ao Portugal profundo" para encontrarmos estas situações. É preciso que as cantinas sirvam comida mais equilibrada e proíbam as máquinas de refrigerantes e doces, afinal a escola é uma instituição não é um local de negócio. É necessário que haja de facto funcionários a cuidarem de alunos com deficiências, para que estes não fiquem abandonados num canto em todos os intervalos, porque as bibliotecas ou outras salas de convívio estão estrategicamente situadas nos andares superiores. Estes alunos têm direito a serem tratados com dignidade e não com desinteresse ( a crítica não é dirigida aos funcionários, mas à falta deles, e quando os há têm que prestar outros serviços à escola, portaria, limpeza das salas etc, porque não há, nunca há funcionários suficientes numa Escola; senhores governantes, gastem o dinheiro que NÓS vos damos, no que é realmente importante). É preciso que os professores recuperem alguma autoconfiança e respeito por eles próprios, porque todos os que fazem as leis, todos os que fazem funcionar este país, foram alunos em primeiro lugar. São os alunos que jocosamente se referem aos professores como "desgraçados" que não ganham sequer para um bom carro, são os pais que raramente vão à escola, mesmo quando instados amiúde pelos professores, já para não falar dos casos que se avolumam dos pais que entram no local de trabalho de um professor - a sala de aula- e insultam e agridem fisicamente os docentes que estão ali exactamente a tentar educar os filhos desses pais. É preciso que as burocracias acabem, é preciso que os professores tenham tempo para prepararem as suas aulas e corrigirem os trabalhos, porque se queremos um ensino com qualidade, este tem que ser feito com tempo e gosto e não através de papeladas obsoletas, que levam horas a preencher e que não servem rigorosamente para nada. É necessário respeito e punição dos que impunemente têm atacado a classe docente, como se esta fosse a responsável pelos males deste país. São infelizmente muitos os caem ainda nestas manobras de desviar a atenção dos reais problemas da educação de hoje: as escolas têm banda larga (sim ? E as cantinas funcionam? E têm pavilhões de Educação Física? E segurança?)os professores têm três meses de férias ( ah, mas isto já enjoa, será que é preciso convidar o resto dos não-professores deste país para acabar com este mito?) os professores faltam muito ( e os médicos, e os juízes e o resto das classes trabalhadoras? ) os professores têm possibilidade de faltar para levar os filhos ao médico (Se forem menores de três anos, caso contrário, não) e podíamos continuar ad eternum mas sinceramente, tudo isto já cansa. Pagamos impostos, trabalhamos por esse país fora, separados muitas vezes da família sem ajudas de custo para combustível ou aluguer de casa (ou quarto!), todos os anos sofremos na pele o que o Ministério se lembra de inventar, para conseguir mais votos e não melhor educação e agora acham por bem colocar os pais como avaliadores dos professores? E atiram com desculpas esfarrapadas do género "SÓ vão avaliar a relação pedagógica" Como, se quando têm a oportunidade de o fazer esquivam - se sempre (salvo as excepções que não são assim tantas, falam dezassete anos de experiência), relegando para os professores o papel de pais, professores e psicólogos (pois porque as escolas também não conseguem aguentar no seu orçamento a contratação de psicólogos). Os pais não gostam de ouvir que os alunos são agressivos ou instáveis devido ao ambiente familiar. Quantos lêem as cadernetas? Quantos se falam com os filhos ao fim do dia, perguntando-lhes como correu o dia na escola, se têm testes, trabalhos de casa etc? Estão cansados ( daí as consolas , os PCs, as televisões no quarto ) pois claro que estão, mas também os professores o estão, porque passam o dia a tentar formar crianças , mas também são pais , também têm filhos e muitas vezes a paciência já foi esgotada com os filhos dos outros. Eu pessoalmente, não quero saber se os Encarregados de Educação me vão avaliar, não lhes reconheço capacidades para o fazer, quanto à progressão na carreira, imporem tanto disparate, quando congelaram os aumentos de quem já progrediu no escalão, depois de ter que frequentar acções de formação em horário pós laboral e elaborar relatórios de análise do serviço prestado, devidamente avaliados por orgãos gestores das escolas é francamente insultuoso. Portugal de amanhã? Alunos cada vez mais descontentes e mal formados porque podem passar com um nível absurdo de níveis negativos, graças às mil e uma reformas do ensino, professores desmotivados ,cansados e humilhados. Sr. Primeiro Ministro, Sr.ª Ministra da Educação, daqui a pouco tempo terão deixado os cargos que neste momento afectam tão profundamente a vida de tanta gente, mas nós, professores continuaremos aqui, muito possivelmente até aos 65 anos, tentando minorar , colmatar, resolver, trabalhar e viver com os erros crassos mas populistas que os senhores cometeram. Analisem , estudem e sobretudo PENSEM. Não foi isso que vos ensinaram na escola...a pensar?? Das duas uma, ou não tinham "boas relações pedagógicas" com os vossos professores ou .....então, não conseguiam mesmo pensar. Não tenho dúvidas, infelizmente, de qual era o vosso caso. Já agora, uma sugestão: proponham o mesmo método de avaliação para deputados, médicos, políticos… eles vão adorar os novos avaliadores de “relações pedagógicas”.


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